A primeira vez que vi a imagem de
São Sebastião foi quando criança, na casa de meu avô. Senti estranhamento e medo. O corpo seminu,
o olhar cândido e as flechadas com sangue escorrendo, emoldurados e colocados
na parede da sala, me perturbavam deveras...
-Quem é ele? Perguntei a minha
mãe. -Um santo. Ela disse.
Não sei se existem filmes sobre
São Sebastião, mas certamente ninguém conseguiria apresentar uma visão tão
erotizada, alegórica e burlesca da vida do santo, quanto Derek Jarman. Na
visão do diretor, São Sebastião é rebaixado de seu posto de Capitão da Guarda,
após demonstrar piedade a um desafeto do Rei. Mandado para o exílio, recusa- se
a participar, talvez por ser católico, das festinhas no lago com os outros seis
soldados também exilados. Sebastião se apaixona por Severus, o Capitão do
exílio, e passa a desenvolver com ele uma relação sado masoquista e platônica
que culmina na sua morte.
O filme, feito sem muita grana, mistura
a vida de Sebastião com a liberdade sexual conseguida pelos gays nos anos
setenta. Jarman não poupa caras, bocas, paus e bundas nas cenas com os
exilados e, fetiches a parte, consigo perceber nestas imagens aquela situação
de candura, nudez e castigo que tanto me intrigava no quadro na sala de meu
avô.
Sebastiane (1976)
Derek Jarman
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