31 março - Dimensões do Diálogo (1983) - Jan Svankmajer
Cabeças rudimentares compostas
por objetos variados como réguas, tesoura, frutas, livros, e outros elementos
inanimados do cotidiano, entram em situação de encontro e canibalismo, tendo
como resultado destes embates, sua própria lapidação e humanização. Numa segunda
estória, um casal apaixonado, feito de argila, não encontra espaço para o fruto de seu
relacionamento ocasionando sua desestabilização. A última narrativa comenta o
ruído causado no dialogo quando os pontos de vista são diferentes.
Com o uso de uma boa animação
stop motion, dimensões do dialogo apresenta três pequenas fábulas sobre as relações,
pautando a necessidade do dialogo como aspecto maior da nossa vida.
Dimensões do Diálogo (1983)
Jan Svankmajer
22 março - Ninfomaníaca (2013) - Lars Von Triers
Desfalecida e com marcas de
agressão, Joe (a ninfomaníaca) é encontrada num beco por Selligman, um pacato
senhor de meia idade que decide ajudá-la. No apartamento de Selligman, enquanto
é amparada por ele, Joe conta sua estória de sexo e violência desde a infância
até a fase adulta. Seligman, que é virgem, ouve o luxuriante relato e faz
interessantes associações dos fatos contados com a literatura, pescaria, música,
matemática e religião, criando um estranho clima de entendimento das razões da
personagem, através de um viés psicológico.
Dividido em duas partes, por
conta das quase cinco horas de projeção, o filme mergulha no universo de Joe
através de oito capítulos, que descrevem sua infância e o seu interesse pelo
clitóris, passando pelo primeiro e talvez único orgasmo, a perda da virgindade,
a maternidade frustrada, até as sessões de dominação e a utilização de sua
psicologia sexual em uma máfia de cobradores, já na fase adulta. Apesar das
cenas de sexo explicito e o tom realisticamente soturno e desconfortável que o
diretor costuma dar aos seus filmes, Ninfomaníaca não é pesado. Embora seja
crescente as situações de violência e desespero envolvendo Joe, é somente nos
aproximadamente 40 minutos finais do filme que explode toda a carga de
provocação que só Lars Von Trier poderia conceber.
Ninfomaníaca (2013)
Lars Von Triers
21 março - O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante (1989) - Peter Greenaway
No restaurante le Hollandais, de propriedade do truculento e
mafioso Albert Spica, (o ladrão), se reúnem todas as noites o próprio, sua
corja de assistentes e bajuladores e sua bela e sofisticada esposa Georgina (a
mulher). No restaurante, entre grosserias e abusos, todas as noites o grupo é
brindado com pratos requintados e executados com rigor por Richard, Chefe da
cozinha (o cozinheiro). Em uma noite no
Hollandais, os olhares de Michael (o amante) e Georgina se cruzam e tem inicio
uma relação de aproximação e desejo, entre eles, sob as barbas do ameaçador
Spica e com a ajuda do Richard, que oferece a cozinha como local dos tórridos
encontros dos amantes. A partir da descoberta de Spica sobre a traição da
esposa, a obra de Greenaway toma um ritmo de crescente tensão, terminando de maneira apoteótica o discurso sobre exagero, mau gosto e maldade humana que
permeia todo filme.
O Cozinheiro, o Ladrão, sua
Mulher e o Amante (1992)
Peter Greenaway
20 março - Barbarella (1968) - Roger Vadim
No século 40, a agente espacial
Barbarella é enviada a um longínquo planeta para por um fim nos planos do vilão
Duran Duran, que ameaça a paz no universo com sua nova arma de destruição.
Durante sua jornada intergaláctica, passa por uma série de peripécias sendo
atacada por pequenas criaturas do planeta Sogo, conhecendo o sexo carnal com um
terráqueo que vive no planeta (no século 40, o sexo é feito através produtos
químicos que não necessitam de contato humano), seduzindo o anjo cego Pygar e
finalmente destruindo a máquina (excessive machine) que mata de prazer quem
nela for colocado.
Roger vadim apresenta uma comédia
erótica, com visual por vezes kitsch, próprio dos anos 60, que acabou por
transformar Jane Fonda num ícone de sensualidade. Mesmo não sendo bem entendido
na época, o filme se tornou cult com o passar do tempo, sendo absorvido pela
cultura pop dos anos seguintes.
Barbarella (1968)
Roger Vadim
19 março - Um Estranho no Lago (2013) - Alain Guiraudie
O lago afastado e cercado por
florestas e montanhas é o cenário de encontros de homossexuais que aproveitam o
isolamento para pratica do nudismo e sexo casual.
Franck é um dos freqüentadores do
local e costuma ter a companhia do solitário Henri, com quem desenvolve uma
relação de afeto. Franck começa a sentir atração por Michael, um belo jovem que começou a freqüentar o lago neste verão. Apesar de saber do comportamento
perigoso do rapaz, Franck se deixa envolver numa relação de desejo e medo.
O mundo fechado do belíssimo
lago, com suas relações superficiais e puramente pautadas no sexo, acaba por
aprofundar a sensação de solidão de Franck a tal ponto deste se colocar em
situação de risco, sem o medo da morte anunciada. O filme ganhou repercussão
por causa de suas cenas de nudez masculina e sexo explícito, mas Guiraudie vai
muito além disto quando expõe as fragilidades e comportamentos dos guetos gays
e sua falsa ilusão de segurança.
Um Estranho no Lago (2013)
Alain Guiraudie
18 março - Lua de Fel (1992) - Roman Polanski
O casal Nigel e Fiona viaja num
cruzeiro marítimo para comemorar seu aniversário de casamento. A bordo do
navio, acabam conhecendo o também casal formado por Oscar, um escritor
paraplégico e a sua bela e jovem esposa, Mimi. Nigel se sente desconcertado com
beleza de Mimi e a convite de Oscar, acaba por visitar sua cabine, aonde através
de longas conversas, a estória perversa do seu relacionamento com a bela jovem
vai sendo pouco a pouco contada. Oscar rememora, em doses diárias de encontro,
toda luxuria de seu relacionamento até a decadência e as atitudes sádicas de
ambos com fim do desejo.
Polanski, em ótima forma, cria um clima de crescente tensão regado
a sexo, obsessão, violência psicológica e viradas surpreendentes dos seus
personagens nada maniqueístas.
Lua de fel (1992)
Roman Polanski
13 março - Os Rapazes da Banda (1970) - William Friedkin
Michael reuniu um pequeno grupo
de amigos gays em sua casa para comemorar o aniversário de Harold, um
homossexual judeu que completa 32 anos. Enquanto se detém nos preparativos para
a festa, recebe o telefonema de seu antigo amigo de faculdade que está na cidade
de passagem, Alan, um jovem hétero que desconhece a condição sexual de Michael.
Para não decepcionar o amigo que está aflito e carente de uma companhia,
Michael o convida para um encontro rápido no seu apartamento durante a festa e,
para manter as aparências, pede a seus amigos que disfarcem e tenham atitudes e
posturas másculas. Alan, que num primeiro momento havia desistido do encontro,
aparece de surpresa na festa, pegando todos, inclusive Michael, sem suas
máscaras.
O filme que começa num tom
humorístico vai ganhando densidade à medida que Michael, em um estado
catártico, não podendo mais disfarçar sua sexualidade perante Alan, promove
entre os presentes um desastroso jogo da verdade sobre o verdadeiro amor. Do
escandalosamente assumido Emory até o próprio Alan, cuja sexualidade evidencia
uma latência, Friedkin com seus oito personagens abrange, de certa forma, a
“escala de tons” do comportamento homossexual, colocando em discussão suas angustias,
carências e medos. A tempestade que chega e acaba por catalisar os
acontecimentos (e destruir todo o glamour da decoração), não deixa de
ser uma bela metáfora a morte simbólica por que passa, durante a festa, o angustiado Michael em
busca do amor próprio.
Os Rapazes da Banda (1970)
William Friedkin
12 março - Vinyl (1965) - Andy Warhol
Vinyl é uma adaptação do livro
Laranja Mecânica de Anthony Burgess, que viria a ser refilmada por Kubrick nos
anos 70 e se tornaria um clássico (muito por conta da forma original que a
censura usou para liberar sua exibição). No filme, feito com uma câmera parada
ao melhor estilo Warhol, vemos o jovem Alex De Large dançando com frenesi antes
de ser iniciado numa sessão sadomasoquista que perpassa o restante das cenas e
que segundo Wharol, não foi simulada (as torturas no ator fetiche Gerard Malanga
eram reais!). O clima extremamente
experimental, o ambiente soturno e a falta de diálogos criam na obra um certo
desconforto que se acentua com a câmera que por vezes sai do enquadramento. O
total descontrole de Warhol em relação à filmagem permitiu a participação da
socialite Edie Sedgwick (musa do diretor e participante em vários de seus
filmes), que aparece no canto direito da tela dançando e assistindo a tudo com
indiferença e um certo ar blasé, sem saber que estava sendo filmada. Por tudo isso, Vinyl não é definitivamente
uma obra para fracos.
Vinyl (1965)
Andy Warhol
09 março - Alphaville (1965) - Jean-Luc Godard
O agente secreto Lemmy Caution,
disfarçado de jornalista, foi enviado a cidade futurista de Alphaville com o
objetivo de convencer o professor Van Braun a voltar a sua terra natal ou matá-lo,
caso de recuse. Van Braun criou o super computador Alpha 60, que domina e
controla a cidade e seus habitantes de forma cruel e implacável. Em Alphaville
os sentimentos foram abolidos, as mulheres são meros objetos, a bíblia é um
dicionário que passa por constantes alterações excluindo palavras em que o
significado liberte o povo da opressão e onde quem não se aliena ou não se
enquadra nas rígidas normas impostas pelo onipresente Alpha 60, é executado ou
colocado em hospitais pra recuperação. Em sua empreitada pela cidade, o
detetive recebe o auxilio de Natasha, a filha do professor, que lhe serve como
um guia.
Godard apresenta uma visão
sombria do futuro, sua Alphaville está longe do clichê das representações
futuristas vistas em vários filmes de temática SI-FI, talvez por adicionar a
este gênero, o clima dos filmes noir. O discurso sobre uma sociedade que se
rende a tecnologia a despeito do sentimento e convívio humano é atual, apesar das
referencias a uma Paris controlada e limitada dos anos sessenta. Mas tal qual
Lemmy Caution em seu diálogo surreal com o computador Alpha 60, Godard, melhor
do que ninguém sabe que é a poesia que pode fazer a diferença e transformar
trevas em luz.
Alphaville (1965)
Jean Luc-Godard
03 março - Kids (1995) - Larry Clark
Kids acompanha alguns dias na
vida de um grupo de adolescentes, residentes em Nova Iorque, e suas relações com
sexo e drogas. Telly, só tem na cabeça um pensamento: desvirginar o maior número
de meninas possível. Kasper, seu amigo descerebrado, tem na sua rotina os rolês
de skate sob o efeito de maconha e álcool. Jennie, após sua primeira
relação sexual, com Telly, se descobre portadora de HIV.
No filme pouco se vê adultos,
e, num clima que beira o documental, acompanhamos sem filtro, a sucessão de relatos e
pontos de vista destes adolescentes, deixando clara a relação de inconseqüência
de seus atos. Numa das cenas, por exemplo, um grupo de skatistas, sem o menor
sintoma de culpa, espanca até a morte um homem que esbarra em seu caminho.
Clark desmistifica a imagem
hollywoodiano do adolescente em filmes, colocando seus perdidos personagens,
crianças com comportamento adulto, no abismo da falta de comunicação e
perspectiva.
Kids (1995)
Larry Clark
TOP 5 janeiro
Top 5 de janeiro
5- C.R.A.Z.Y. (2005) – Jean-Marc Vallée
4- Aqui é o meu lugar (2011) – Paolo Sorrentino
3- O ato de matar (2012) - Joshua Oppenheimer
2- Shame (2011) - Steve McQueen
1- Adoração (2009) - Atom Egoyan
+
As Tentações de Santo Antônio (2009) - Veiko Õunpuu
25 fevereiro - 12 anos de escravidão (2013) - Steve McQueen
Solomon Northup, é um homem negro
livre, que tem uma boa viva e prestigio social e vive de apresentações de
música com seu violino, no período que antecede a guerra civil americana. Um
dia, enganado com a promessa de ganhar mais dinheiro em....., Solomon é seqüestrado
e vendido como escravo. Lutando principalmente para manter sua dignidade,
enquanto passa por toda sorte de desventura, humilhação e horror, Solomon, passado
doze anos, encontra finalmente ajuda com um jovem abolicionista canadense, que
conheceu por acaso, na fazenda de seu mestre.
O filme mergulha na ferida da
escravidão, principalmente americana, mostrando suas minúcias, abusos e
mazelas, que imprimiam no pensamento de seus dominados, a condição de aceitação
do status de escravo passivo, como a única forma de sobrevivência. Talvez o que
mais assuste em 12 anos de escravidão, seja o fato que tais pensamentos de
inferioridade da raça negra, ainda encontrem ecos no cotidiano. A cena que
Solomon fica preso, agonizando diante de todos durante horas com uma corda no
pescoço enquanto a lida na fazenda segue absurdamente normal, diz muito sobre o
baixo valor da carne negra naquela época e ainda, na atualidade. McQueen por
vezes brutal por vezes sutil, brilhantemente faz pensar sobre paralelos com os
tempos atuais, só demonstrando que apesar dos avanços, ainda precisaremos de
muitos anos para curar as marcas deixadas pela ideologia da escravidão, ainda
tão arraigadas na cultura tanto de quem discrimina quanto de quem é discriminado.
12 anos de escravidão (2013)
Steve McQueen
23 fevereiro - Clube de compras Dallas (2013) - Jean-Marc Vallée
Anos oitenta, em pleno surgimento
e avanço, a AIDS, já estigmatizada como doença gay, faz de Rock Hudson, uma de
suas primeiras vítimas importantes. Neste contexto, em 1986, Ron Woodroof, um
vaqueiro hetero e homofobico, depois de ser levado ao hospital para tratar de
um acidente de trabalho, descobre que está com vírus do HIV e tem
aproximadamente 30 dias de vida. Apesar do estado debilitado, do preconceito e
da hostilidade dos amigos, Ron inicia uma luta para conseguir os remédios que
possam lhe dar uma sobrevida. Depois de fugir para o México, tem contato com
medicamentos alternativos que dosados corretamente apresentam bons resultados.
Disposto a faturar, inicia o contrabando destes medicamentos, trazidos
ilegalmente de várias partes do mundo, que serão vendidos, com a parceria do
travesti Rayon, para a comunidade infectada de Dallas, através de um pacote de
cotas. Independente dos avanços de saúde no uso dos coquetéis fornecidos por
Ron a sua clientela, a indústria farmacêutica lobistas, além de outras coisas, está
bem interessada no filão financeiro que tem Ron e seu clube de compras, como
uma possível ameaça aos seus já estabelecidos planos.
Jean-Marc Valle reproduz o
obscuro panorama que se instalou com a chegada e estigmatização da doença,
através da luta de Ron contra um sistema de desinformações, medo, preconceitos
e lobby de uma indústria que via na nova infecção um transbordante meio de
lucro.
Clube de compras Dallas (2013)
Jean-Marc Vallée
22 fevereiro - Imperador Ketchup (1971) - Shuji Terayama
O partido do bandeira negra,
formado somente por crianças, tomou o poder e o Imperador Ketchup estabelece
suas novas leis: todos os adultos, com suas regras morais e educacionais, serão
punidos com humilhações, torturas e morte.
O filme de Shuji Terayama,
underground até osso, apresenta uma fotografia por vezes estourada e em tom
levemente rosado, por onde desfilam cenas controversas em que crianças, assumindo
o papel de adultos, fazem sexo, fumam, andam nuas e simulam torturas bizarras.
Numa das cenas, por exemplo, dois meninos vestidos com roupas militares jogam
ping-pong tendo uma mulher nua e usada como rede de mesa, em outra cena, Ketchup,
completamente nu, é servido sexualmente por três prostitutas.
O Imperador Ketchup foi feito sob
o impacto dos protestos do Maio Francês e da Primavera de Praga, ambos no final
dos anos sessenta, e é um reflexo da liberdade sexual que se anunciava. A
mescla de doses de ingenuidade e libido nas bizarras cenas, dirigidas por
Terayama, um adepto de uma visão naturalista e sem culpa do sexo, cumprem seu
papel de chocar fortemente nosso olhar ocidental do mundo.
Imperador Ketchup (1971)
Shuji Terayama
20 fevereiro - Ela (2013) - Spike Jonze
O escritor Theodore vive em um
futuro não muito distante, onde apesar da tecnologia de ponta e da alta conectividade
entre pessoas, a solidão e o individualismo tornaram os humanos anti-sociais.
Neste mundo de lapsos entre vida real e virtual, os sentimentos podem ser
encomendados, descritos e enviados sob a forma de anacrônicas cartas, através
do serviço prestado pela empresa em que Theodore trabalha e é um dos mais
brilhantes funcionários. O escritor, em processo de divorcio, ainda procura
entender as razões de sua atual crise melancólica, enquanto rememora os bons
momentos em que viveu casado. Num belo dia, Theodore tem contato com um novo
sistema operacional de ponta, auto nomeado de Samantha, que é programado para
atender as necessidades do usuário e é construído e alimentado por uma
inteligência artificial que rapidamente se adapta e evolui a partir de emoções
e situações cotidianas. Samantha é prestativa, engraçada, conselheira, e mais do que tudo é empatica, preenche
todas as necessidades emocionais de Theodore, mas não tem um corpo físico. Carente,
Theodore logo desenvolve uma paixão, que é correspondida pelo sistema, mas que,
apesar dos esforços de ambos, está fadada a não se concretizar.
Ela é um filme intimista e
delicado sobre o amor na era da conectividade. O futuro retratado por Jonze
apesar de tecnológico flerta com vários elementos retrô, como nas vestimentas
dos personagens, no mobiliário e a fotografia do filme, levemente esmaecida. Mas
além das belas imagens, da trilha sonora delicada e envolvente, a grande
surpresa do filme é a interpretação extremamente convincente de Scarlett Johansson,
como a voz de Samantha, que nos toca, envolve e nos faz torcer pelo impossível
final feliz.
Ela (2013)
Spike Jonze
18 fevereiro - Dead Man (1995) - Jim Jarmusch
O contador William Blake viaja de
Cleveland até uma cidade no interior do interior do Estados Unidos, pela promessa
de um emprego na metalúrgica Dickison, que acaba não se confirmando. A pequena cidade
de Machine é um território selvagem onde as coisas se resolvem através de armas
de fogo, e Blake, já no primeiro dia, sem dinheiro e fortemente ferido, é
forçado a fugir depois de se envolver na morte do filho do dono da metalúrgica
e sua noiva. Sem forças e com uma bala alojada próximo ao coração, William
Blake, encontrado e ajudado pelo filosófico índio Ninguém, não desconfia que
sua cabeça foi posta a prêmio e esta sendo perseguido por matadores contratados.
O índio Ninguém, que sofreu
influência da cultura branca e indígena sem necessariamente conseguir se
estabelecer em nenhuma delas, acredita que o contador ferido é o poeta inglês
William Blake.
Dead man é meu filme preferido de
Jarmusch, que reinventa o gênero western justapondo textos filosóficos, humor,
poesia de William Blake à um cenário
árido e selvagem, brilhantemente registrado em preto branco, embalado pelas
guitarras cortantes de Neil Young, que fez a trilha sonora.
Dead man (1995)
Jim
Jarmusch
17 fevereiro - Paranoid Park (2007) - Gus Van Sant
A câmera flutuante acompanha as
manobras dos skatistas em Paranoid Park, que Alex foi conhecer a convite de seu
amigo mais velho Jared. No fim de semana seguinte, Alex decide ir ao Paranoid sozinho
onde se entrosa e se deixa levar pelos outros jovens.
Mais tarde, já no colégio, é
chamado por um investigador policial para uma conversa sobre uma morte que
ocorreu numa área de trens próxima ao parque dos skatistas: um vigilante foi
encontrado fatiado por um trem e com marcas de agressão; uma possível
testemunha teria visto um jovem arremessar um skate da ponte próxima ao local do
crime.
Gus Van Sant intermedia belas
imagens em slow motion dos skatistas enquanto os acontecimentos que levaram a
morte do vigilante são relembrados por Alex. A narrativa em tom muito lento e
os longos planos, especialmente nas cenas em que Alex aparece, acabam criando
um elo de aproximação com o personagem e seu mundo alienado e solitário. Van
Sant utiliza a dilatação do tempo para impregnar no espectador sensações
desconfortáveis, embaladas sob a forma de belas imagens, que
persistem na cabeça durante semanas.
Paranoid Park (2007)
Gus Van Sant
16 fevereiro - Segredos de Sangue (2013) - Chan-wook Park
A jovem Índia tem que lidar com a
morte inesperada do seu pai no dia do seu décimo oitavo aniversário e a
presença misterioso de seu tio Charlie, até então desconhecido, que passa a
habitar a casa da família depois do velório. Com o convívio, começa a se
estabelecer um jogo de sedução entre Evelyn, a viúva, e Charlie, sob o olhar frio
de Índia, que também não passa despercebida do tio. As motivações da volta de
Charlie ao seio familiar começam a ficar claras e sua presença no cotidiano da introspectiva
e aparentemente frágil Índia, ativa na jovem a herança sombria do seu sangue.
A mistura de morte e sexo é uma
combinação que Park sabe explorar com uma singular propriedade, como já visto
em suas outras obras Lady Vingança e Old Boy. Em segredos de sangue o clima de
mistério e tensão constantes, se dá muito pela montagem fragmentada do filme,
pelo andamento cheio de sutilezas da narrativa e pela belíssima e soturna
fotografia. Segredos de sangue é uma ótima estréia de diretor coreano no cinema
americano.
Segredos de Sangue (2013)
Chan-wook Park
15 fevereiro - A espuma dos dias (2013) - Michel Gondry
Collin tem uma boa condição
financeira e vive sozinho com seu rato de estimação e seu cozinheiro Nicollas.
Durante uma festa de amigos, é apresentado a Chloé, com quem depois de alguns
encontros, acaba se casando. Numa noite enquanto dorme, Chloé ingere um pequeno
floco que se aloja em seu pulmão, causando-lhe uma doença rara cujo
tratamento se dá com remédios caros e a aplicação diária de grandes quantidades
de flores.
Michel Gondry cria um universo
onde as leis da física são reinventadas e onde equipamentos interativos são
ativados através de soluções quase mágicas. A espuma dos dias parece um
pretexto para Gondry experimentar toda a sorte de trucagens do cinema analógico,
em cenas inusitadas e muitas vezes belas, mas sem a preocupação com a eficácia
ou a relação destes efeitos para o desenvolvimento da trama. O filme que começa
bem, deslumbrando os olhos do espectador pela singularidade e o delírio das
situações, logo cansa e se mostra carente de uma narrativa mais amarrada e
personagens não tão rasos.
A espuma dos dias (2013)
Michel Gondry
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